Saturday, October 22, 2005

arquitectura - edifício de habitação e comércio, Lobito, 2004/...

Este projecto constituiu a minha "reconciliação" com a pratica da arquitectura, após um afastamento de largos meses, provocado por um acidente Vascular Cerebral(AVC) que sofri no dia 12 de dezembro de 2003. É, por isso, para mim, e em primeiro lugar um projecto de um enorme simbolismo.

Por outro lado, surgiu como uma provocação/teste às minhas "reabilitadas" capacidades para o trabalho.

Por fim, constituiu uma proposta irrescusável para o tão desejado regresso à cidade que marcou toda a minha infância; o Lobito, em Angola.










"REGRESSO A CASA"

Quando fui convidado para este projecto, na "minha terra" e ainda por cima num gaveto com a rua em que vivi nos últimos anos da minha permanência nessa bela cidade,
(os primeiros vivi-os na "Restinga"), não hesitei em meter-me no avião para ansiosamente vencer as 7 horas e meia que me separavam desse destino; Angola!



Projecto:

Tratava-se de um programa simples; um edifício de habitação (2 apartamentos) e de comércio (uma agência de um Banco) que promoveu toda a construção.



Importava, portanto, que o edifício tivesse um "ar" institucional, já que, na realidade irá funcionar como a representação dessa instituição Bancária na região e mais concretamente na Cidade do Lobito cuja importância esteve, desde sempre, associada ao seu grande Porto, à fábrica dos cimentos, e ao caminho de ferro que nele converge, conferindo-lhe uma posição estratégica no território Africano.



Nesse mesmo quarteirão, entre os muitos e sempre criativos edifícios de habitação
sobressai um dos 3 Mercados Municipais (Luanda, Lobito e Benguela) cuja autoria é atribuída ao grande Arquitecto Português Vasco Vieira da Costa.
Verdadeiramente, e tanto quanto sei (e consta na documentação de que disponho), só o Mercado do Quinaxixe em Luanda







No caso deste um gaveto, era importante conseguir uma transição equilibrada das cérceas de altura distinta (2 para 3 pisos) dos dois edifícios conformam o lote, até há pouco tempo ocupado por construções extremamente precárias e degradadas.




Contudo, no interior desses edifícios, resistiam duas actividades muito nobres : Um Centro de Formação de deficientes e uma Creche, ambos sem electicidade ou água potável.

Na primeira visita que fiz ao local, fiquei simultaneamente chocado e emocionado.
Chocado, pelas degradantes e quase inexistentes condições de salubridade em que aquelas pessoas viviam e trabalhavam;
Emocionado pela forma simpática e pela disponibilidade que os seus olhares meigos me transmitiram.
Senti um arrepio, vi nesses olhares em vez de rancor, esperança e coragem. Pensei nos meus "pequenos males" e senti-me, nesse instante, muito "pequenino".
Mais tarde, depois de descrever essa realidade à administração do Banco (já que o edifício condenava à demolição essa miserável mas preciosa "gruta", os dois administradores fizeram questão de ir propositadamente falar com essa gente e sentir o que eu senti. E sentiram, e reagiram. Era natal e a melhor das prendas para eles foi sentir essa cumplicidade.
Ficou assente em todos nós, que antes de mais, era essencial realojar condignamente aquelas almas.



Legalmente, poderiamos ali erguer um bloco com 4 ou 5 andares. No entanto considerando a envolvente e o equilíbrio que pretendia manter, propus ao promotor, com esses e outros argumentos estéticos, que nos "ficássemos" pelos 2 pisos, criando um pequeno corpo num segundo plano, mais recuado (para não interferir com o alinhamento desejado) que albergará eventualmente o apartamento do futuro gerente da agência do piso térreo.


Os apartamentos foram desenhados para corresponder ao modo de vida dos seus previsíveis destinatários.


A empena "cega", virada para a engenhosa "colina da Saudade" virá a ser totalmente preenchida por um enorme "outdoor", com a imagem do bancomuito bem conseguida e apelativa.
A Colina da Saudade é de um engenho notável: sob ela passa em túnel, o caminho de ferro que parte do Porto, enquanto à superfície resolve eficazmente todo o sistema viário principal, em dois eixos estruturantes e paralelos de sentido único (uma espécie de circuito fechado).
A faixa central desta "falsa montanha" de largura generosa, foi dedicada exclusivamente aos peões, que assim rapidamente passam da baixa da cidade (O bairro da restinga) para o centro de comércio (O bairro da Caponte).





O Projecto de Execução pouco alterou o conceito do projecto inicial. Consolidou-o, depurando-o, defendendo a desejada qualidade de construção através das habituais "resmas" de desenhos nas diversas escalas que são sempre a "autoridade" do arquitecto na relação com a sua obra e com os distintos interesses dos principais intervenientes (Dono da Obra, Construtora, Fiscalização).



As condicionantes mais pragmáticas decorrentes do contexto para onde se projecta, (as dificuldades infraestruturais; a estabilidade da energia eléctrica que implica sempre um inevitável Gerador, a climatização, a segurança,a dificuldade de meios para executar caprichosos pormenores, foram realidades que a Equipa Projectista levou necessariamente em consideração, num diálogo permanente com os técnicos locais que conhecem profundamente o terreno e sabem como ninguém "agilizar os processos".

Monday, October 17, 2005

desenho


"amor de pai"
(esferográfica sobre cartão, 20x15cm, Elvas 2005)

fotografia


"Resignado"
Vigo, Outubro 2005

Saturday, October 15, 2005

desenho

esquisso para o projecto de um edifício a construir no Soyo, Angola

Monday, October 03, 2005

desenho


"A máscara #01"
desenho editado no nº 199 do Jornal-Arquitectos (J-A) de Janeiro/Fevereiro de 2001

Sunday, October 02, 2005

arquitectura

Museu de Sítio da Rua do Sembrano em Beja. - “UM PROJECTO DESVIADO...”

Projecto vencedor, (por unanimidade do Júri), do "Concurso Público de ideias para a Rua do Sembrano, Beja "(C.I.R.U.S.), lançado em 2 de Março de 1991 pela Câmara Municipal de Beja com a preparação da então Associação dos Arquitectos Portugueses (AAP), agora institucionalmente Ordem dos Arquitectos Portugueses (OA) e cujos resultados foram publicados no dia 3 de Junho do mesmo ano em cerimónia Pública.

Tenho um carinho muito especial por este projecto. Foi o 1º Concurso Público em que entrei, e conquistei o 1º lugar, com a proposta de construir um Museu de Sítio. Recém formado e com 26 anos, estava na altura a tentar dar os "primeiros passos" na Actividade por Conta Própria.

Por definição um Museu de Sítio é um edifício erguido sobre estruturas arqueológicas relevantes, descobertas, muitas vezes ocasionalmente, após demolições, em locais onde existiu uma longínqua ocupação humana, e tem como conceito fundamental a exposição das estruturas arqueológica “in-situ” e, complementarmente, a exposição dos objectos aí encontrados pelas equipas de arqueologia, depois de devidamente tratados, restaurados, etc.
Procura-se, deste modo oferecer ao visitante do Museu uma leitura transversal,mais completa e didáica, da primitiva ocupação local e sucessivas alterações de uso.
Foi esta a ideia, acompanhada do respectivo Projecto que venceu há 14 anos o já referido Concurso Público promovido pela C.M.B. que desde 1988 (data das descobertas) nada tinha realizado para proteger e conservar aquilo que já na altura os arqueólogos identificaram como uma antiga e rica habitação romana no perímetro da PAX JULIA,com pavimentos aquecidos, e vestígios de pavimentos e calçadas intactos e uma compartimentação perfeitamente legível.

Esta pequena introdução, no contexto deste meu blog, serve para contextualizar os eventuais interessados para aquilo que eu considero um aberrante e gritante "ESCÂNDALO" nada abonatório das relações entre o Poder Local e os restantes cidadãos,sejam eles carpinteiros, vendedores artistas ou arquitectos.
O Meu Projecto:
(extracto da memória descritiva):O ponto de partida deste projecto baseia-se em duas ideias com propósitos e escalas diferentes.
A primeira refere-se ao edifício propriamente dito, e dá sinal de uma vontade em traduzir uma certa simplicidade do programa. A segunda refere-se à procura de uma relação com a cidade imediatamente envolvente, que tem como objectivo conferir uma dimensão urbana, mais ambiciosa, a esta intervenção.

O desafio consiste em dar visibilidade - tornar Museu - ao conjunto arqueológico e a uma série de pequenos objectos encontrados no local no decorrer das escavações. Num gesto simples, único, contemporâneo e que dignifique a importância do local, não se deixando intimidar pela reduzida área do lote e pelo facto de estar no coração do Centro Histórico, rodeado por tecido urbano e por edifícios bastante consolidados.

O conceito encontrado foi o de criar um volume liso, paralelipipédico, abstracto, solto dos edifícios adjacentes, uma espécie de “ caixa ” que protege e encerra o conjunto arqueológico.
Para tornar mais claro este gesto, foi criada uma plataforma coincidente com o lote, num material distinto, que contém o conjunto arqueológico propriamente dito, sobre o qual foi pousado o referido volume.maqueta com a primeira fase (Edifício)

maqueta com a 2ªa fase (Praça)que completaria o projecto.

Tendo em vista um amplo espaço / praça de acesso ao Museu, este projecto propõe a extensão da plataforma, através da supressão do edifício existente no lote confinante, até à rua situada a poente, que liga com o Largo de S. João.
Esta operação (segunda fase) permite criar uma praça, que faz “ respirar ” o edifício e alarga o seu percurso de aproximação, reforçando em termos urbanos a sua importância.
Por outro lado e lendo no sentido oposto, esta praça seria o culminar de um encadear de largos existentes, decrescentes em escala; Largo dos Duques de Beja, Largo da Conceição e Largo de S. João.



O QUE FOI FEITO "À REVELIA" :





Não posso deixar de acompanhar as imagens do edifício que encontrei no lugar do meu, sem tecer algumas observações sobre essa obra, com a "autoridade" de um arquitecto que dedicou largos anos a estudar e a projectar um Museu contemporâneo, no sensível Centro Histórico de Beja;
1- O projecto que foi concretizado copia (mal) e suporta-se (mal) num conjunto de ideias da nossa autoria, nomeadamente:
-Um corpo paralelipédico, abstracto "caixinha de surpersas", revestido integralmente em madeira baquelizada onde dificilmente seriam perceptíveis as aberturas. (No edifício actual, a madeira é substituída por pedra, mas na zona da entrada do edifício os arquitectos não foram suficientemente coerentes para recusar uma imagem recorrente e despropositada, tendo em vista a delicadeza do tecido urbano envolvente, há muito consolidado).-Um painel exterior, da autoria do artista plástico João Louro, que "Grafitava" os muros virados para o museu (na obra realizada, esta ideia é plagiada e transformada num painel de azulejos, de questionável qualidade.
-A demolição do antigo edifício, pouco qualificado, com vista à criação de uma praça que fizesse "respirar" o Museu e que se relacionaria com as praças e Largos da envolvente mais próxima. Foi com alguma dificuldade que convencemos e sensibilizámos a C.M.B. a demolir o referido edifício, para que fosse possível realizar esta ideia.
-No nosso projecto, e como é evidente, foi integrada na equipa que concorreu, uma arqueóloga (DRª Filomena Barata) que trabalhou intensamente na musealização das estruturas arqueológicas, tendo em vista a possibilidade, concretizada no nosso projecto, de uma visita fisica aos achados arqueológicos, através de um percuso pré-definido. (No actual edifício, esse acesso, que no nosso projecto incluía inclusivamente um elevador para deficientes motores, é resmetido para uma espécie de "alçapão de cisterna", completamente inacreditável.
-A importância da conservação integral das estruturas arqueológicas que evoluiu, como antes referi, com as escavações sucessivas, obrigou, no nosso projecto, à opção por uma estrutura mista de ferro (pilares assentes em estacas e rigorosamente implantados) e betão (lajes)
-O grande interesse para o visitante da obra que projectámos consistia em percorrer a exposição dos objectos encontrados no sítio e simultaneamente poder, através do vazio existente sobre as ruínas, ter uma percepção mais rica e objectiva do passado desse local.
(No Projecto construído essa leitura é praticamente negligenciada, apesar da utilização de um sofisticado e imagino) dispendioso pavimento em vidro, normalmente embaciado...)

Todo este processo foi pormenorizadamente descrito, ilustrado e documentado na edição do Jornal-Arquitectos "(J-A)" nº199 de Janeiro/Fevereiro de 2001, bem a tempo de evitar maiores estragos...




Da parte da (C.M.B.)ou da "BejaPolis" não houve, até hoje, quaquer desmentido a esse relato, baseado em Factos e em provas documentais.
Mas esta denúncia pública de nada serviu, já que, quem agora for a Beja, e junto ao antigo largo de S. joão se deparar com um museu com uma entrada a "puxar ao Hight-teck revisteiro" confronta-se com um edifício que não foi o que venceu o Concurso, nem que foi objecto de sucessivos contratos, uma vez que a inércia da C.M.Beja relativamente ao pessoal que disponibilizou para as escavações, fez com que o projecto vencedor (O meu) fosse sendo alterado ao ritmo a que decorriam as escavações no sítio, e eram encontradas novas e importantes estruturas (que comprometiam o projecto), culminando com o achado de um troço de Muralha da Idade do Ferro, que, pela primeira vez comprovou a ocupação pré-romana do Local, mas que, pela enorme importância histórica obrigou à última e definitiva alteração ao projecto, com novo contrato celebrado entre mim e o sr. presidente da Câmara amunicipal de beja.
nem foi objecto de concurso ou de contratos e projectos de execução completos. O aparente e insólito enigma tem muito a ver com a entrada, a meio do processo, de uma entidade muito pouco convincente, (para não ir mais longe) denominada "Beja Polis "apadrinhada pelo enraizado há largos anos Presidente da câmara Municipal de Beja, Sr. Carreira Marques que, a pretexto de algo que terá tempo de explicar devidamente", entregaram de "mão beijada” o meu projecto nas duas fases que o constituem (Edifício e praça adjacente – também proposta por mim) a alguém que lhes merecia, eventualmente, maior "confiança", esquecendo-se porém que, tanto quanto todos julgamos saber Contratos Celebrados são coisas muito sérias que têm inclusivamente cláusulas também muito sérias.
Para além disso, e entre Colegas de profissão, fica sempre bem respeitar os Códigos Éticos, Deontológicos e outras coisas que, também são muito sérias.
Feita a introdução que se impunha, e deixada aqui a referência para o nº199 da "revista dos arquitectos" que melhor pode informar quem assim o entender, "vamos" então ao MEU PROJECTO, ficando em estilo de "rodapé" aquilo que está efectivamente a acabar de ser construído,provavelmente à pressa, (vêm aí o dia 9...) da autoria do Gabinete dos arquitectos Fenando Sequeira Mendes
e José Catarino Tavares

(fiquei a saber o nome dos autores da obra agora em conclusão pelo Guia de Arquitectura recentemente editado pela editora "Blau", lançado curiosamente na "nossa casa" de Lisboa: "Arquitectura em Lisboa e Sul de Portugal desde 1974
Já agora, convêm ler o que o Sr. Carreira Marques escreveu, (a propósito de "outras politiquices", que nada têm a ver com este assunto)no Boletim da (C.M.B.)sobre "mentiras monstruosas".
Quanto ao seu carácter, quem quiser que tire as suas próprias conclusões.
Nota 1: Não sou filiado em qualquer partido, contudo, sempre fui um homem "de Esquerda", que fique bem claro!.
Nota 2: O 2º Projecto de Execução foi elaborado em parceria com o Arquitecto Jorge Estriga
Nota 3: O Projecto de Concurso, foi elaborado em parceria com a Arquitecta Daniela Antunes

fotografia



"Liquidação total"
Gran Via de Madrid, 2005

Saturday, October 01, 2005

fotografia


"muda de roupa", Lobito, Angola 2005

Pintura


"Bar da praia" técnica mista sobre papel, (25x20cm), 2005